Imagine entrar em seu ambiente de trabalho e ver uma parede tomada por desenhos e mensagens elogiosas em reconhecimento à sua atuação profissional. Imaginou? Para a equipe assistencial do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes (HNSN), que atua na linha de frente de prevenção e combate ao coronavírus, essa é uma realidade que emociona e motiva a cada nova jornada. Mais de 40 pequenas obras de arte, repletas de sensibilidade, ganharam o corredor central desta unidade de saúde da AESC, em Torres, na segunda quinzena de março. A autoria é de crianças de três comunidades próximas que, incentivadas pelas famílias, manifestaram o apreço que têm por técnicos de enfermagem, enfermeiros, médicos, equipes de higienização e copa.
A iniciativa de mobilizar o público infantil nessa ação foi da dona de casa Bianca Matos, 25 anos, esposa do técnico de enfermagem Marcos Paulo da Silva, 32, que há dois anos trabalha no HNSN. Em isolamento social na casa de seus pais, Bianca, que é cardiopata e compõe um dos grupos de risco para a COVID-19, resolveu ativar seus contatos na vizinhança para mandar mensagens de apoio ao seu marido e demais colegas.
Com a experiência de quem estudou Pedagogia e trabalhou em escolinha, organizou-se com outras mães das comunidades São Braz, em Torres, e Porto Colônia, no município de Dom Pedro Alcântara, convidando as crianças para desenharem e redigirem palavras de apoio. O resultado está exposto em local de grande visibilidade na unidade de saúde.
O responsável por levar essas criações até o Hospital Navegantes foi Marcos Paulo. Ele também tem passado por momentos desafiadores. Desde o dia 20 de março, optou por residir provisoriamente em uma pousada próxima do local de trabalho para resguardar a esposa e os filhos Miguel (9) e Isis (10 meses) de qualquer risco de contaminação. “Eu fazia um plantão noturno pelo SAMU quando deparei com um caso de coronavírus, que foi confirmado cinco dias depois. Fiquei assustado e vi a importância de me afastar da família”, relata.
Após Bianca falar sobre a homenagem das crianças, Marcos Paulo foi buscar os trabalhos. “Quando deparei com os desenhos me emocionei bastante. As crianças, por menor que sejam, sabem o valor dos profissionais da saúde. Foi uma energia muito boa, aquele empurrão de motivação que eu precisava. Depois, falei com a enfermeira Aline Silveira, que gostou muito da ideia. Plastificamos, por questão de higiene, e colamos na parede cada desenho”, descreve.
No início da pandemia, o técnico de enfermagem chegou a pensar em largar tudo para ficar próximo da esposa e dos filhos. Depois, um colega o orientou para não se preocupar e reforçou que todos no Hospital precisavam dele. “Naquele momento vi que não era hora de desistir. Eu estava ali para somar”, revela o Marcos Paulo.
A saudade de casa é amenizada por meio de vídeochamadas com a esposa. Por ali, acompanha os primeiros passos de Isis e também conversa com o filho Miguel. “Explico que estou longe protegendo a todos, e para ajudar as pessoas. Ele é bem evoluído para a idade que tem, embora sinta minha falta para brincar. Faz a higiene das mãos corretamente e ainda ensina os avós.”
Até o momento (3 de abril), o Hospital Nossa Senhora dos Navegantes não teve internação de casos confirmados de COVID-19. No entanto, a mobilização permanece com profissionais como Marcos Paulo, que dedicam seu tempo para proteger e salvar vidas.
