A doação de alimentos não perecíveis, frutas, legumes e verduras, itens de higiene e limpeza aos migrantes durante a pandemia, conforme a primeira reportagem sobre a Semana do Migrante, celebrada de 14 a 21 de junho, é complementada pelo Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) pelos serviços da Assessoria Jurídica para orientar sobre a obtenção do Auxílio Emergencial, fornecido pelo Governo Federal, para pessoas sem garantia de renda nesse período de isolamento e restrições das atividades econômicas.

Apesar de esse momento estar mais centrado nas atividades assistenciais, há 38 anos o CAM promove ações que visam à autonomia e à garantia dos direitos de cidadão para aqueles que buscam apoio no local. Cursos de língua portuguesa, oficinas profissionalizantes e encaminhamentos para confeccionar documentos e acessar benefícios são algumas das formas de fortalecer os migrantes e garantir-lhes empregabilidade e independência.

Em fevereiro, CAM preparou migrantes para atuarem no mercado de trabalho / Foto: Divulgação

“Tive ajuda para fazer meus documentos”

Ricardo Michaúde, 29 anos, haitiano da cidade de Gonaives, veio para o Brasil em 2011, em busca de trabalho, pois em seu país faltavam chances de ingresso no mercado. “O CAM tem importância por sermos bem atendidos por pessoas boas, que nos recebem bem. Eu tive ajuda para fazer meus documentos, CPF, e conhecer oportunidades de trabalho. Também levei dois amigos para ajudar na tradução de documentos e para terem acesso ao Auxílio Emergencial da Caixa Econômica Federal”, relata. Michaúde vive com mais um amigo em Caxias do Sul e foi beneficiado recentemente com a doação de alimentos e produtos de higiene e limpeza.

Natural Trujillo, no Peru, Lesly Mellin Rubio, 19 anos, está há cinco meses no Brasil. Veio estudar contabilidade por ver no país uma oportunidade melhor de qualificar seu currículo e conquistar experiência. “Serviços como os que são realizados pelo CAM são legais, pois facilitam a documentação de estrangeiros e auxiliam no acesso a benefícios, como o que busquei, para atendimento pelo SUS”.

Nos meses de janeiro e fevereiros de 2020, o Centro promoveu um curso de camareiros para imigrantes e a capacitação de servidores públicos de Caxias, em parceria com a Universidade de Caxias do Sul. O curso sobre Regularização Migratória e Atendimento Assistencial a Imigrantes repercutiu na criação do Centro de Informação ao Imigrante (CIAI), iniciativa da prefeitura a cidade serrana.

Nova remessa de alimentos e esperança desembarca em frente ao CAM / Foto: Divulgação

“Buscamos apoiadores para qualificarmos nossa missão”

De acordo com a coordenadora do CAM, Irmã Celsa Zucco, a ajuda da comunidade, de empresas, de voluntários e institutos é fundamental. “Durante a pandemia, o serviço foi adequado às necessidades dos imigrantes. Realizamos a cessão de alimentos, de produtos de higiene e limpeza, bem como assistência jurídica em questões emergenciais. Devido à atual realidade, todas as atividades coletivas foram suspensas, mas não deixamos de ampará-los em momento algum”, esclarece.

A queda na atividade econômica impactou a vida de quem nem sempre tem emprego formal. “Temos percebido aumento nas vulnerabilidades dos migrantes, principalmente pela perda de emprego e geração renda. Muitos vêm em busca de auxílio para alimentação. Ainda, recebemos relatos de dificuldade em realizar a quitação dos aluguéis e receio de despejos, bem como a preocupação em honrar as contas mensais como fornecimento de energia e água. São dificuldades em questões básicas”, ressalta a gestora.

Para atravessar esse período, Irmã Celsa mantém uma rede solidária de contatos com doadores que ligam semanalmente perguntando sobre as necessidades, como material de higiene, álcool gel, máscaras, roupas e calçados. “É muita generosidade. Às vezes recebemos o que nem imaginamos: tudo novo, limpo, organizado. As pessoas trazem com os carros próprios. Ajudam organizar o estoque, se dispõem organizar as cestas e material.  Só temos a agradecer”.

Muitas das boas ações em benefício do CAM são feitas de forma anônima. Mas a coordenadora relaciona alguns dos nomes que dispendem tempo e recursos para contribuir. Entre eles estão o bispo de Caxias do Sul, Dom José Gislon, representantes da Agricultura Familiar, comunidade árabe, médicos da Unimed, o instrutor do curso de camareiros Elias Castilho, estudantes da Universidade de Caixas do Sul, Eduardo Pinheiro, Regina Bellini, Ivo Dall’Agnol e Banco de Alimentos, entre outros.

Sobre a Semana do Migrante

Há 35 anos, o calendário da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) traz a celebração da Semana do Migrante. Em 2020, o período se estende de 14 a 21 junho. O lema bíblico ‘Onde está teu irmão, tua irmã?’ retoma o apelo da Campanha da Fraternidade 2020, que trouxe o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”.

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