O Brasil foi o destino escolhido pela médica da família Gladys Ernestina De la Cruz Lluveres, 39 anos, que deixou a República Dominicana, em 2013, para exercer sua profissão no extinto Programa Mais Médicos, promovido pelo Governo Federal. Em busca de uma nova vida, atravessou o país e chegou a Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, por indicação de pessoas que recomendaram o Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), mantido pela AESC, sob administração das Irmãs de São Carlos Borromeo-Scalabrinianas. No local, conheceu pessoalmente a vocação da Congregação para o acolhimento, característica que transcende gerações.

Médica dominicana Gladys Lluveres, à direita, com a mãe, o filho e o esposo / Arquivo Pessoal

Disposta a trabalhar, precisou lidar com entraves burocráticos ligados às entidades que regem a Medicina, além do habitual bloqueio em relação à Língua Portuguesa. Tanto a questão do idioma quanto a dificuldade para seu registro foram superadas com o auxílio do CAM. “Agradeço o advogado Adriano Pistorelo pelas tantas vezes que me orientou sobre assuntos migratórios e junto ao Ministério Público, permitindo que eu conseguisse me registrar no Conselho Regional de Medicina (Cremers). Revalidei meu diploma em 2015 e só consegui o registro no Cremers, em 2018, graças ao trabalho do CAM”, relata Gladys.

Atualmente, ela trabalha no sistema de saúde pública e vive com seu filho Kelnys, 9 anos, a mãe Ana Mercedes, 69, e o marido Paulo H. Zwetsch, 48, na cidade de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

 

Dra. Gladys, ao centro, em saída para atendimento domiciliar durante a pandemia / Arquivo Pessoal

 

Mais de 5 mil beneficiados

Essa é apenas uma das milhares de histórias que o CAM, há 39 anos, ajuda a construir para imigrantes e refugiados em sua nova nação. Acolhida, atendimento jurídico, defesa e garantia de direitos, integração ao trabalho por meio de cursos profissionalizantes, promoção cultural e aulas de Português fazem parte do cotidiano do Centro. Somente em 2020, houve 17.939 atendimentos nessas áreas, beneficiando 5 mil pessoas de mais de 38 nacionalidades, especialmente da América Latina e África. Para ações de assistência imediata, como doações de mantimentos, o CAM tem o suporte da comunidade, por meio de voluntários, empresários da Serra Gaúcha, Diocese de Caxias do Sul e entidades como o Banco de Alimentos de Caxias do Sul, entre outros.  

Parcerias estratégicas e atuação com o poder público

Além dessas ações, é promovida a capacitação de agentes públicos nas esferas municipal, estadual e federal, visando qualificar servidores e voluntários para compreender as demandas do público migrante. São promovidos cursos, palestras e oferecido material informativo em parceria com universidades, como UCS, UFRGS, UFSM e UPF. As ações de Advocacy são realizadas de forma diária, por meio de contatos com redes de migração, entidades, órgãos públicos, organismos internacionais como Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

 

“Revalidei meu diploma em 2015, e só consegui o registro profissional, em 2018, graças ao trabalho do CAM”

 

Solidariedade durante a pandemia

Desde a confirmação do primeiro caso de contaminação por coronavírus em Caxias do Sul, em 11 de março de 2020, o CAM desenvolve ações que garantam o suporte necessário a imigrantes e refugiados. A mobilização de agentes públicos, entidades, imprensa e comunidade caxiense para a doação de alimentos e produtos de higiene, limpeza e máscaras, entre outras iniciativas relacionadas à Covid-19, permitiu o auxílio a mais de 5 mil pessoas. Além disso, a Assessoria Jurídica orientou para a obtenção do auxílio emergencial fornecido pelo Governo Federal para pessoas sem garantia de renda durante a pandemia.

O fenômeno migratório é um tema impactante, vislumbrado há 125 pelo bispo João Batista Scalabrini, fundador da Congregação. Por meio do trabalho das Irmãs, com leigos e voluntários, Caxias do Sul, com CAM, tornou-se referência nacional de esperança para homens e mulheres que vêm de dezenas de países para ter sua dignidade e cidadania reconhecidas e condições de vida adequadas nessa nova morada.

 

36ª Semana do Migrante

A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) criaram para a 36ª Semana do Migrante, de 13 a 20/06, com o tema “Migração e diálogo” e, como lema, o questionamento: “Quem bate à nossa porta?”. A proposta é estar aberto a viver com os diferentes e criar cenários que propiciem soluções eficazes a partir do diálogo e de uma atitude desprovida de autoritarismos. Saiba mais neste link.

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