Parte da equipe dedicada à Saúde Mental do público masculino junto à porta de entrada da Unidade, que tem grafitte, ao fundo, assinado pelo artista David Bizer. Essa unidade visual, visando à familiaridade com os espaços, está presente, também, nos quatro CAPS AD sob gestão da AESC, na Capital.

A unidade de desintoxicação masculina instalada no Hospital Santa Ana (HSA), no Bairro Teresópolis, passou por ajuste operacional para acolher pessoas dependentes químicas a partir dos 16 anos. A iniciativa foi motivada a partir de diálogo com a Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre. Antes, a unidade do HSA se dedicava exclusivamente atendimento de adolescentes entre 12 e 17 anos.

O ajuste no Projeto Técnico Assistencial (PTA) da unidade, iniciado em março de 2022, possibilita melhor aproveitamento dos 28 leitos disponíveis, com foco em desintoxicação, redução de danos, e adesão ao tratamento para a dependência química decorrente do consumo de substâncias psicoativas.

A mudança é motivada pela identificação de lacuna assistencial para esta parcela da população por parte da Política Municipal de Atenção à Saúde Mental, com a necessidade da oferta de suporte hospitalar estratégico para Rede de Atenção Saúde Mental (RASM) e para Rede de Urgências e Emergências (RUE), em um cenário epidemiológico que sugere a expansão no uso de substâncias como crack, álcool e outras drogas no país.

A partir da estrutura ofertada pelo Hospital Santa Ana, a gestão avaliou que essa demanda poderia ser absorvida pela instituição, que é mantida pela Associação Educadora São Carlos (AESC).

O cuidado às pessoas do sexo masculino a partir dos 16 anos, iniciado em 14 de março, absorve o conhecimento praticado na Unidade São Rafael, dentro do HSA, que desde 2009 realiza a abordagem terapêutica com pessoas adultas do sexo feminino.

“A reorganização operacional permite a desintoxicação para os dependentes químicos, o manejo aos sinais e sintomas agudos da abstinência, e a proteção emn situações de risco”, destaca o diretor médico do HSA, Antonio Carlos Gruber.

Profissionais da Unidade de Saúde Mental para o público masculino

Itinerário do cuidado

O acesso à internação é regulado pela Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre. São acolhidas pessoas que ingressam nos pronto-atendimentos de saúde mental do município ou dos estabelecimentos da Rede de Atenção à Saúde Mental (RASM), que acionam a regulação.

Ao ingressar, o usuário SUS é recebe atenção do Núcleo Interno de Regulação (NIR), é avaliado por equipe médica e de enfermagem. Com a nota de internação e prescrição, ingressa na unidade, onde o tratamento de desintoxicação transcorre pelo período médio de 21 dias, prazo adaptado em razão das singularidades e objetivos terapêuticos de cada paciente.

“Muito além da classificação clínica, o acolhimento para ingresso na unidade tem como diretriz o estabelecimento de laços de confiança e corresponsabilidade para o rompimento da lógica contemplativa e a possibilidade de adesão ao plano de cuidados”, ressalta a psiquiatra Isadora Rocha dos Santos.

Para a Enfermeira Raissa Carvalho, “o acolhimento é o momento de aproximação, escuta, interpretação das necessidades e demandas do sujeito por trás da fala, e de vinculação. As pessoas que ingressam na unidade são recebidas pela equipe multiprofissional que realiza a avaliação clínica e psiquiátrica. É apresentada a proposta de cuidados, levantam-se informações do histórico pessoal e familiar em saúde e se estabelecem os primeiros objetivos de cuidado”.

Articulação em rede e acolhimento responsável

A internação tem propósito protetivo e terapêutico, visando à desintoxicação, o fim dos sinais e sintomas de abstinência, bem como a adesão a um plano terapêutico orientado ao projeto de vida de cada pessoa.

O ciclo de atendimento hospitalar, no entanto, não pode afastar a pessoa do cuidado de base comunitária, na Rede de Atenção à Saúde Mental (RASM). Para isso, as equipes multiprofissionais do hospital dialogam e constroem estratégias de vinculação durante a internação e pós-alta com os serviços de referência, estimulando a adesão e o apoio à autogestão do cuidado.

Todos os dias, os Planos Terapêuticos Singulares (PTS) das pessoas cuidadas na unidade são discutidos pela equipe, avaliadas estratégias para cada caso, incluindo a escuta de demandas, os riscos e situações emergentes e a forma de preparo para a alta e a inserção na RASM.

O Hospital Santa Ana também está comprometido com o aprimoramento técnico dos profissionais atuantes em seus serviços, segundo a Gestora Executiva da instituição, Arlete Fante:

“As práticas assistenciais são trazidas à Incubadora SUS, desenvolvida em 2018 nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD) em suas unidades CAPS AD III Partenon – Lomba do Pinheiro, CAPS AD III Noroeste, Humaitá, Navegantes e Ilhas, CAPS AD III Sul – Centro Sul e CAPS AD IV Centro, todos sob gestão da AESC. São compartilhados conhecimentos e estratégias de cuidado para o manejo ambulatorial e hospitalar dos transtornos mentais decorrentes do uso e abuso de substâncias psicoativas”.

Quanto à importância da unidade para a cidade, o Diretor Executivo de Saúde Complementar da AESC, Maximiliano das Chagas Marques, lembra que “é imprescindível destacar que os marcos legais específicos da Atenção à Saúde Mental evidenciam a necessidade e a relevância de serviços orientados à autonomia, autodeterminação e à proteção da vida humana, com respeito aos direitos humanos e promoção da cidadania”.

Como se observa no Relatório Mundial sobre Drogas (UNODC, 2021), há sugestão que a pandemia da Covid-19 potencializou o consumo de substâncias psicoativas e prevalência de dependência química, recorda Marques.

Índice de ocupação

A unidade dedicada à saúde mental masculina no Hospital Santa Ana alcançou 82,1% de ocupação na primeira quinzena de funcionamento, o que endossa sua importância para a desintoxicação de pessoas que aguardavam pelo acesso ao tratamento.

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